sábado, 8 de junho de 2013

Cycle Chic




Pedalar não tem mais o rótulo de esporte. Num mundo cada vez mais entupido de carros, andar sobre duas rodas é uma atitude e uma bandeira pró-planeta.
O movimento Cycle Chic prega que a bike seja incorporada de vez ao cotidiano e, por isso, não há por que ficar escravo do abrigo e do tênis.
Bicicleta combina, sim, com o guarda-roupa do dia a dia.
(Por Álvaro Perazzoli)




Ao que parece, foi-se o tempo em que pedalar pela cidade significava ter de se paramentar com shorts ou abrigo, tênis e camiseta. Em tempos em que a bike já rivaliza com os automóveis - Amsterdã e Paris são dois exemplos - e o seu uso como meio de transporte cresce a passos largos por aqui, ir ao trabalho, à balada, às compras e à faculdade sobre duas rodas já se tornou uma atitude corriqueira.
Tanto que está provocando uma mudança de mentalidade no que diz respeito à maneira de se vestir na hora de pedalar. Se o ciclista está a bordo de um veículo como outro qualquer, por que ele teria de abrir  mão  dos trajes que usaria para ir ao trabalho, balada ou fazer compras? Por que não usar roupas, digamos assim, normais?
 
Essa é a bandeira do Cycl Chic, movimento originário da Dinamarca que ganha cada vez mais espaço também em terras nacionais. No Brasil, Curitiba (PR) foi uma das primeiras cidades a adotar o conceito, graças ao blog Curitiba Cycle Chic (curitibacyclechic.blogspot.com.br), na rede desde 2009. No ano seguinte, surgiu em Belo Horizonte (MG) um grupo formado só por mulheres que se encontra, com único objetivo: pedalar charmosas. As meninas do Pedal de Salto Alto (pedaldesaltoalto.wordpress.com) não se inebem e saem de saias, vestidinhos e shorts jeans para se esbaldar pelas ruas da capital mineira.
 
 
Hoje, o movimento também está presente em São Paulo (o perfil da turma pode ser encontrado no Facebook, em Brasil Cucle Chic), Rio de Janeiro (www.riodejaneirocyclechic.com.br), Vitória(www.vixcyclechic.com.br),  Porto Alegre(uma série de blogs trazem informações sobre o tema, entre eles o cyclechicportoalegreblogspot.com) e Brasília (brasiliacyclechic.blogspot.com).
Desde 2009, houve um crescimento de 40 % a 50 % do número de ciclistas que adotaram a bandeira da roupa casual para pedalar, conta Gee Siqueira, responsável pelo blog curitibano.
 
 
 
O Cycle Chic não tem necessariamente a ver com moda ou com ser fashion, até porque um país tropical como o nosso pede roupas mais casuais. A ideia é que as pessoas não precisem mudar a sua maneira de se vestir porque o meio de transporte não é um carrro e sim uma bike. Priscila Moreno, responsável por uma empresa especializada na construção de alforjes para bikes e uma das idealizadoras do perfil Brasil Cycle Chic no Facebook, diz que a página na rede social publica fotos
de pessoas que não necessiariamente estão seguindo a última tendência da moda ou têm um estilo alternativo que chame a atenção. " O que nos interessa é o senhor usando calça social, boina e sabato fechado que volta da padaria com a sacolinha de pão pendurada no guidão. É a moça que foi trabalhar de bicicleta e estava usando saia. É o pedreiro que está de calça jeans  havaianas azuis. Talvez eles não saiboam, mas fazem parte de um movimento que aos poucos configura uma revolução na
cidade, conta. Segundo ela, Cycle Chic é um modo de vida. "Moda é um tema que movimenta bilhões, onde houver a possibilidade de extrair qualquer tipo de lucro, alguém vai dar um jeito de invntar um negócio. O movimento Cycle Chic é muito maior que isso, tem a ver com a dinâmica do ir e vir."
 
Nataly Gonçalves, administradora de empresa e ciclista, não gosta muito do termo. "Acho o nome Cycle Chic muito chique, prefiro Ciclo Casual", brinca. Para a jormalista Verônica Mabrini, autora do blog Gata de Rodas (gataderodas.blogspot.com.br) Cycle Chic significa utilizar a bicicleta como transporte usando roupas do dia a dia e sem a necessidade de enfeitar com trajes de atletas. "Se você vai de bicicleta para uma festa ou para o trabalho, nada mais justo que pedalar com o vestido da
festa ou com a roupa do trabalho", diz Nataly.
 
 
 
 
Mais do que aliar moda ao ciclismo, o Cycle Chic vem reformulando conceitos e influenciando a criação e o desenvolvimento de algumas marcas. Alforjes elegantes à prova d'água, bike estilo vintafe com geometria urbana, capas e bolsas discretas e impermeáveis, paralamas com design retrô são algumas novas releituras de elementos já existentes no mercado feitas pela indústria de bicicletas. São soluções "fashion", para que as velhas desculpas de chegar suado no destino, pedalar na chuva, carregar um monte de coisas na bike, correr riscos e não ter onde se trocar não sejam mais empecilhos para usar a magrela como meio de transporte. "Existem acessórios muito bonitos, que servem para solucionar todos esses probleminhas e fazer com que você chegue bem e apresentável a seus compromissos", conta Nataly.
 
 
 

Se engana quem pensa que a tendência está restrita às classes média e alta. Na periferia, por incrível que pareça, muita gente já está habituada a esse conceito.
Em uma ótica completamente diferente da que vemos na Europa, aqui são trabalhadores simples ou mesmo pessoas que levam seus filhos na garupa e pedalam com a roupa do dia a dia, cita Rodrigo Vicentim, analista de sistemas e ciclista.
Além do clima tropical e da topografia, bastante diferentes dos encontrados nos "planos" países europeus, o brasileiro que pedala, sofre com a falta de infraestrutura urbana, com o desrespeito por parte do motorista e também com as grandes distâncias, que desistimulam muita fente a usar a bike para se locomover, caso por exemplo, da cidade de São Paulo. "Mas é bom lembrar que a distância pode ser resolvida com a integração da bicicleta com o metrô", diz Vicentim.
 
 
 
 
Revista Sport Life - Número 139 - Junho de 2013

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