Ditado pelo espírito Samuel
Psicografado por Viviani Cláudia Florêncio
Editora ônix
Seremos chamados verdadeiramente filhos de Deus ao abraçarmos sinceramente aqueles que nos ofendem, nos caluniam, nos prejudicam e nos odeiam, estendendo as mãos aos desafortunados e infelizes de toda sorte, acolhendo o irmão necessitado no caminho.
Entendo que a humanidade é uma grande família e somos, nós todos, irmãos.
Compreendendo e sanando o sofrimento, a dor, a revolta por onde passamos. Retirando de nós a ignorância das nossas almas em trânsito incessante. Acreditando e confiando que só Jesus é o caminho da paz e da libertação para uma nova vida plena de Luz Resplandecente.
Lembrando que, a cada dia, cada existência é um novo aprendizado, uma nova lição de amor. E as lições surgem cada vez mais gloriosas e preciosas, tornando as nossas vidas um eterno aprendizado.
O autor espiritual nos conta a história de vida de dois amigos, dois jovens advogados, sócios em um escritório na Capital Paulista dos anos 1970, que, no exercício da mesma profissão, trilharam por caminhos diferentes. Apresenta-nos uma história bastante objetiva, coerente e cheia de exemplos de fraternidade, caridade, humanismo e, como o próprio título nos sugere, de laços de amizade sincera. Muitos amigos e várias histórias de vida e conflitos interiores.
A amizade sincera de muitos personagens e a acolhida espiritual, sempre orientando e direcionando-os ao caminho do bem, fez com que muitos fossem ajudados a encontrar sua verdadeira missão e como cumprir os objetivos traçados antes de cada reencarnação. Muitos reencontros e desencontros fizeram com que esses personagens passassem por momentos de alegrias, tristezas, sofrimentos e por fim a felicidade.
O JOVEM TÚLIO
Túlio acordou e olhou para o relógio à sua cabeceira, que marcava sete horas. Era manhã de domingo e pôde perceber pela janela do seu apertamento a chuva fina que caía sobre a movimentada cidade de São Paulo. Era um dia típico de descanso. Seu corpo doía, espreguiçou-se, porém sentia-se cansado, porque não dormia bem à noite. Tivera terríveis pesadelos na madrugada. Esses pesadelos pareciam-lhe reais e monstruosos.
Sentado à cama, tentava lembrar o que sonhara, mas não conseguia. Tudo parecia fragmentado, difícil de definir. Levantou-se, tomou um banho, arrumou-se e se sentou para tomar um café. Queria esquecer a noite maldormida. Olhou para o calendário, estava em julho de 1975. Era o aniversário de sua mãe, mandara um presente pelo correio a ela, e esperaria mais tarde para lhe telefonar e lhe desejar os parabéns.
O tilintar do telefone chamou-lhe a atenção, era a sua namorada que, preocupada, necessitava de notícia. Haviam se encontrado na noite anterior em uma boate, mas saíram logo depois. Túlio alegava que não se sentia bem e queria voltar para casa. Ela achou o comportamento dele muito estranho e na madrugada telefonou várias vezes para ele sem resultado. Por telefone, completou:
- Onde esteve Túlio? Faz horas que estou perguntando a mesma coisa e até agora não me respondeu?
- Estive em casa, Rita! Por que não acredita em mim? Estava muito cansado e dormi profundamente, acho que por isso não acordei com o barulho do telefone.
- Você está mentindo! Tenho certeza ! Decerto saiu com os amigos, ou com outra mulher, e está me enganando. Bebeu demais e agora dá a desculpa que estava dormindo - berrou ela.
- Eu realmente estou dizendo a verdade. Estive todo o tempo em casa e sozinho.
- Você não é homem de ficar em casa em pleno sábado. Diga a verdade ! Ficou na farra atpe de madrugada! - dizia Rita, aos gritos.
- Não diga coisas que não sabe, Rita! Estou cansado dos seus ciúmes bobos.
- E eu estou cansada das suas atitudes irresponsáveis, Túlio.
O jovem tentou se defender, mas foi interrompido por ela:
- Não quero ouvir mais nada ! Chega! - gritou ela, desligando subitamente o telefone.
Não houve tempo para Túlio explicar-se - "mas de que adiantaria, se ela não iria acreditar mesmo" , pensou. Sentia fortes dores de cabeça e resolveu tomar um analgésico.
Túlio era advogado, tinha vinte e seis anos, era alto, magro, de cabelos castanhos-escuros, bem aparados e cuidados, olhos da mesma cor e expressivos. Era muito bonito, chamava a atenção por onde andava. Ele provinha de uma família de classe média alta. Falava fluentemente o inglês, obteve muitas propostas de trabalho fora do país, no entanto preferiu trabalhar no Brasil. Do seu trabalho, comprou o apartamento onde morava num dos bairros nobres da cidade de São Paulo.
Como filho único era mimado pelos pais que lhe proporcionavam todos os gostos. Pouco se importava com o sofrimento alheio, era egoísta, pensava apenas em si próprio. Envolvia-se com amigos que, como ele, gostavam das noites extravagantes pela cidade. Túlio não perdia oportunidade de humilhar is menos favorecidos. Esquecia-se de que somos todos filhos de Deus e que os maiores necessitam cuidar dos menores, que a caridade, a paciência, a fraternidade e o amor são as virtudes que devemos ter para sermos melhores a cada dia.
Ele namorava Rita, moça de personalidade forte. Ela possuía cabelos curtos, lisos e tingidos de vermelhos, olhos castanhos-claros, lábios carnudos, pele branca, sua estatura era baixa, o que lhe causava complexo. Era arquiteta. Ela e Túlio namoravam há alguns meses. Certa vez, quando acompanhava uma amiga ao escritório de Túlio, o conheceu e logo começaram um relacionamento amoroso, porém tempestuoso.
O diálogo com a namorada deixou o jovem rapaz mais irritado ainda. Não conseguia compreender por que ainda continuava o relacionamento amoroso com Rita, já que não nutria amor verdadeiro por ela, e o ciúme doentio dela por ele atrapalhava muito o namoro.
Achou melhor esquecer o episódio desagradável e resolveu ligar para a mãe e lhe desejar os parabéns. Ao telefone, conversaram por alguns minutos, mas foi o bastante para ele perceber que a sua mãe estava com a voz estranha, embargada, melancólica. Tentou diversas vezes lhe perguntar se algo a estava aborrecendo, mas ela dizia que estava tudo bem e era apenas impressão dele. Túlio não conseguiu falar com o pai que estava ausente naquele momento.
Os pais de Túlio eram advogados, como ele, e moravam em Belo Horizonte. A senhora Bárbara era uma mulher atraente, elegante e telefonava constantemente para o filho. Seu marido, Ricardo, um homem alto quinquagenário, de cabelos curtos e pretos, com poucos fios brancos, quase imperceptíveis, era sempre sorridente e amável.
O diálogo com a mãe não lhe proporcionou o ânimo necessário. Sentiu-se apreensivo. Pensou "Acho que hoje não é o meu dia, parece que tudo está errado. Logo pela manhã, a discussão com Rita, e agora a minha mãe que não está bem e insiste em esconder coisas de mim. Que será que está acontecendo? Será que o meu pai aprontou alguma? Amanhã bem cedo ligo de novo para saber o que houve.
Seus pensamentos foram interrompidos pelo som do interfone que lhe chamou a atenção. Da portaria avisaram-lhe que tinha visitas. Era o seu amigo e sócio Marcos, que já se encontrava no elevador, indo ao seu encontro. Logo os dois amigos estavam juntos.
Marcos era um ano mais velho e de estatura mais alta que o amigo, pele negra, solteiro, e não tinha namorada. Tinha bom gosto para roupas e perfumes, e era de extrema simpatia. Era querido pelos amigos e por aqueles que conviviam com ele. Vinha de uma família simples e humilde, tudo o que conseguiu foi a custo de muito trabalho e dedicação. Era espírita. Quando adolescente, conheceu a doutrina Espírita que lhe ampliou os horizontes , trouxe-lhe tranquilidade, razão de bem viver e vontade de servir ao próximo. Os trabalhos na casa espírita e em seu escritório preenchiam o seu dia-a-dia. Não perdia a oportunidade de fazer visitas a hospitais e creches. Sua fala mansa e despreocupada fazia com que ficasse rodeado de amigos que lhe pediam conselhos e lhe contavam os problemas. Apesar dos latentes defeitos do amigo Túlio, Marcos mostrava-se paciencioso com ele, amava-o como um irmão do coração. Dava-lhe bons conselhos, tentava redirecionar-lhe a conduta moral e aprimorar-lhe o espírito.
Logo que entrou no apartamento, percebeu o semblante carregado do amigo e perguntou:
- Você me parece aborrecido. Aconteceu alguma coisa?
- Hoje não é o meu dia. Rita ligou para mim aos berros, querendo saber o que aconteceu comigo ontem.
- Como assim? Não entendi!
- Eu não estava me sentindo bem e dormi mais cedo. Ela não acredita que eu estava em casa dormindo!
- Entendi! Na verdade, ela tem razão de estar desconfiada de você. Você a dora ficar a noite toda nas boates. Você já devia ter se acostumado com os ciúmes dela. Mas não acho que foi isso que o está preocupando.
- Tem razão! Hoje telefonei para a minha mãe e achei que ela estava muito triste e nervosa.
- Você sabe por quê? - perguntou Marcos curioso.
- Não sei! Você conhece a minha mãe. Não é mulher de se deixar abater por pouca coisa. Algo aconteceu de muito grave para deixá-la nervosa daquele jeito.
- Talvez seja impressão sua. Às vezes ficamos de mau humor por nada. Quem sabe não seja o caso dela, amanhã está tudo bem e a alegria volta.
- Assim espero - respondeu ele com ar desanimador.
Marcos olhou para o amigo e comentou:
-Compreendo sua preocupação com a sua mãe. Mas você não me engana. Tem algo que o está incomodando.
- Não consigo esconder nada de você. Eu estou tendo pesadelos horríveis, que estão se tornando constantes. Acordo aflito, atormentado. Sinto o meu coração apertado.
Marcos refletiu alguns instantes antes de responder e, olhando para o amigo, esclareceu:
- Você precisa voltar-se para Deus. Viver uma vida saudável, sem bebidas e noitadas extravagantes. Passa a noite toda ouvindo barulhos estridentes e bebendo. Chega em casa alcoolizado e trazido por seu amigos. Isto não é vida, Túlio. percebo você irritado todo o tempo e impaciente.
- O que isto tem a ver com os meus pesadelos?
- Muita coisa. Precisa se preparar para dormir. Orar a Deus, agradecer o dia que passou. Orar pelos que necessitam. Vigiar os pensamentos.
- Quer que eu seja como você que vive uma vida certinha, monótona? Não quero isto para mim. Gosto de diversão - respondeu Túlio, tentando se defender.
- Gostaria que ficasse comigo o dia todo no sábado para ver que a minha vida não tem nada de monótona. Fazermos sopa fraterna no Centro para dar aos necessitados, distribuímos pão para os que sentem fome e falamos do Evangelho para os que têm sede de esclarecimentos espirituais. Vamos visitar os doentes nos hospitais e nas casas. Somos abordados por pessoas apreensivas e sem esperança todo o tempo - esclareceu Marcos sem se aborrecer.
- Do jeito que fala, logo será canonizado. Vai virar um santo - redarguiu Túlio, dando de ombros.
- Não seja tolo, Túlio. Se todos nós deixássemos o egoísmo de lado e ajudássemos a quem precisa, certamente o mundo seria melhor.
- Você acha o quê? Que sou egoísta? Está falando isto para mim? Quero que me ajude a não ter mais pesadelos. Não preciso dos seus sermões. Apenas que me ajude - esclareceu Túlio, alterando o tom de voz.
- Não precisa se alterar. Estou ajudando, dando "receita" para você livrar dos pesadelos: - Oração e Vigilância. Ajudando, seremos também ajudados. Quando digo que devemos deixar o egoísmo de lado me refiro a todos nós. O mundo precisa mais de amor ao próximo, de esperança e alegria.
- O mundo, eu não sei! Mas eu preciso de alegria. Preciso sair desse apartamento, estou me sentindo sufocado.
Percebendo que o amigo certamente não ouviria os seus conselhos, Marcos falou, mudando o ritimo da conversa:
- É melhor mesmo sairmos daqui e respirar ar fresco. Vamos tomar um café no bar aqui embaixo. O ar livre vai lhe fazer bem.
Túlio concordou. Apesar dos dois serem muito amigos, o jovem não estava gostando do rumo da conversa. Não via com bons olhos as advertências que Marcos lhe fazia sobre a sua vida. Sair do apartamento para tomar um café lhe faria muito bem. Por isso aceitou com prazer o convite. Rapidamente os dois homens saíram do prédio e encaminharam-se à lanchonete. Lá, conversaram por longo tempo, descontraídos.
Rita estava em sua casa, nervosa, andando de um lado a outro. Sentia muito ciúme de Túlio. Seus pensamentos conflitantes o imaginavam com outra mulher. Não acreditava nele quando dizia que passou a noite dormindo. Ela era uma mulher extremamente ciumenta e possessiva, pouco acreditava em religião. Apenas acreditava em seu trabalho e no tempo presente. Gostava de curtir a vida. Tinha extremo cuidado com o corpo e com os cabelos, gastando quase todo o seu salário no embelezamento deles e nas roupas de griffe. Seus pais eram desencarnados e não tinha irmãos. Vivia em seu apartamento sozinha, tinha poucos amigos, pois possuía personalidade arrogante e prepotente.
Nervosa com a conversa que tivera com o namorado, pensava "Tenho certeza de que ele está me traindo, mas com quem? Ele pensa que me engana! Deve estar com a Adriana, aquela sonsa. Eu sei que ela é apaixonada por ele, e quer dar o golpe do baú, mas eu não vou deixar. Sei onde ela mora. Vou até lá". Decidida, pegou as chaves do carro e saiu.
Algum tempo depois, percorrendo as tuas da cidade de São Paulo, finalmente Rita chegou ao seu destino. Parou o carro em frente à casa da jovem. O imóvel era simples, ficava na periferia da cidade, parecia uma construção antiga. Ela tocou a campainha. Uma velha senhora, demonstrando simpatia, veio atendê-a.
Rita, mostrando certa rudez na fala, pediu que chamasse Adriana. A velha senhora estranhou a atitude da jovem ao seu portão, mesmo assim chamou a filha. Logo, Adriana estava diante dela, sem nada entender. Rita pôde observá-la melhor de perto. Ela era uma jovem bonita, alta, de corpo bem modelado, olhos verdes e cabelos claros, longos e ondulados. Adriana não entendia o porquê daquela visita. Esperou que ela falasse. Rita foi logo dizendo:
- Não adianta mentir. Sei que esteve com o meu namorado ontem à noite. Confesse!
Adriana assustou-se com a acusação e por alguns segundos ficou paralisada, olhando para a mulher à sua frente. Rita insistiu, aumentando o tom ameaçador da voz:
- Vamos ! O que está esperando? Confesse!
- Não vou admitir que a senhora venha à minha casa e faça acusações falsas. Eu não estive com o doutor Túlio nem ontem e nem dia nenhum. Estive em casa a noite inteira. Como me acusa dessa forma?
Adriana respondeu a acusação sem se alterar. Sua voz era firme, causando um mal-estar na acusadora. Rita, sem se intimidar, retrucou:
- Mesmo que esteja dizendo a verdade, sei que é apaixonada por Túlio e faria tudo para conquistá-lo.
- Como pode ter tanta certeza dos meus sentimentos? Eles não lhe dizem respeito. Está enganada sobre mim, senhora! Se já terminou, é melhor que vá embora.
- Vou sim! E farei com que perca o emprego.
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