Tabu (2012) é um filme português de longa-metragem de Miguel Gomes, que invoca, em homenagem cinéfila, a obra homônima Tabu de F. W. Murnau (1931).
Co-produção portuguesa, alemã, brasileira e francesa, tem estreia mundial na 62ª Berlinale (Festival Internacional de Cinema de Berlim), onde é contemplado com o prémio Alfred Bauer (Alfred-Bauer-Preis), destinado a obras inovadoras, e com o prémio FIPRESCI1 da crítica internacional para o melhor filme em competição.
Na sua estreia em Portugal, a 5 de Abril de 2012, é exibido em nove salas nos distritos de Lisboa, Coimbra e Porto. Terá garantida, desde Berlim, distribuição em dezassete países4 5 6 7 . Fará mais de três mil espectadores nos primeiros quatro dias de exibição8 , o que é invulgar em Portugal com filmes portugueses de autor, dando um sinal das suas potencialidades na distribuição internacional, com a particularidade de se tratar de um filme de características não comerciais.
O filme é lançado nos Estados Unidos, com estreia em Nova Iorque9 , a 26 de dezembro de 2012 no Film Forum, uma das seis “art cinemas” de Manhattan. Será o quinto filme português com estreia comercial nessa cidade, depois do documentário de Bruno de Almeida sobre Amália Rodrigues, A Arte de Amália (The Art of Amália), Cinema Quad ano 2000, O Fantasma de João Pedro Rodrigues, IFC Center ano 2003 e, em 2011, O Estranho Caso de Angélica de Manoel de Oliveira, IFC Center, e Brumas de Ricardo Costa, no Quad (Ver: As convergências e o sonho americano). Em relação a todos os antecedentes, será o filme português com maior projecção internacional.
Sinopse
«Uma história passada (…) pouco antes do início da Guerra Colonial Portuguesa», «…um filme sobre a passagem do tempo, acerca de coisas que desaparecem e só podem existir como memória, fantasmagoria, imaginário (…)»
PRÓLOGO :
Um narrador, Miguel Gomes, em voz over, lê um texto poético e algo filosófico que invoca uma lenda em que o Criador ordena mas em que o coração comanda: o suicídio de um intrépido explorador que, em terras de África, noutros tempos, se suicida lançando-se para as águas turvas de um rio onde será devorado por um crocodilo. O motivo que o leva a um acto tão desesperado é uma desilusão amorosa. Jura-se a bom jurar, dando veracidade à coisa, que uma linda dama por vezes se avista no meio da selva acompanhada de um triste crocodilo, sendo garantido existir entre ambas as criaturas uma misteriosa empatia.
PARTE 1 - Paraíso Perdido :
Três mulheres, que se dão como podem, moram num antigo prédio de Lisboa. Aurora, uma octogenária vivendo da reforma, velhota faladora, supersticiosa e excêntrica, mais morta que viva, e a Santa, a sua soturna criada cabo-verdiana, meio analfabeta mas ilustrada nas artes divinatórias do vodu, prática bem africana, vivem juntas na mesma casa. A Pilar, vizinha e amiga, católica e militante em grupos de solidariedade social, ocupa ainda seus lazeres enredando-se no psicodrama das outras duas.
A Pilar tem um apaixonado, um pintor romântico frustrado, que lhe oferece quadros foleiros. Preocupa-a, mais que ele, a boa amiga Aurora: a sua solidão, as suas frequentes escapadelas até ao casino. Preocupa-a tanto ou mais ainda a criada mulata de quem desconfia, pelo que ela cala e pelo que ela faz: artes do diabo. Por seu lado, entende a pobre Santa que se governe quem se tem de governar, e pronto, o melhor é ficar calada.
Mas algo mais atormenta a velha senhora. Sente-se às portas da morte e alguém lhe falta, alguém de quem as outras nunca tinham ouvido falar. Por isso lhes pede que o procurem: Gian-Luca Ventura. Aparece o homem, velho colono moçambicano que anda mal da cabeça. E outra história se revela, que assim desponta: "Aurora tinha uma fazenda em África no sopé do monte Tabu..."
PARTE 2 – Paraíso :
Flash-back: a história da vida de Aurora contada por esse homem em voz over, textual, monocórdica e arrastada. É ele Gian-Luca Ventura, «um explorador, uma espécie de Livingstone[desambiguação necessária], neste caso um português do século XIX» (Carloto Cotta / Henrique Espírito Santo), que de santo nada tem.
África portuguesa. Aurora vive perto da montanha Tabu com o marido. Exímia caçadora, não falha um tiro. Tem um pequeno crocodilo por ele oferecido que faz parte da família e se passeia pela opulenta casa como um banal animal doméstico.
O bicho foge. Ela acaba por o descobrir em casa do tal Gian-Luca e assim travam conhecimento. Assim se envolvem numa relação intensa e apaixonada. Será ele pai de um filho que ela pare. Será por isso que marido e amante se confrontam. Será talvez por isso que a bela e jovem Aurora, a de há cinquenta anos, perde a pontaria. Mas não quando pega num revólver e friamente comete um crime, implicando o amante.
Como pano de fundo deste melodrama, que se desenrola como um malfadado conto de fadas, assoma pouco a pouco e subtilmente todo o esplendor de uma África colorida que se revela sem cor porque as almas cinzentas dos que a colonizam fazem com que as cores intensas que ela tem se desvaneçam por entre as névoas que os rodeiam e o fumo que emana das suas paixões. Retrato de uma época passada, a preto e branco.
EPÍLOGO:
Explica Miguel Gomes como tudo se passou: «Trabalhamos com os actores de uma forma diferente da primeira para a segunda parte. Na primeira, ensaiamos como é normal alguns meses a partir do guião. Na segunda, fizemos uma coisa que adoro fazer: atirei fora o guião e os actores não sabiam o que iam fazer». 11 . Moral da história: como tudo na vida, corremos o risco de vermos frustrados nossos desígnios seguindo um plano rigoroso. Conseguimos muitas vezes lá chegar improvisando. Como no cinema, a vida é um jogo.
Ficha artística:
Laura Soveral – Aurora (velha)
Ana Moreira – Aurora (nova)
Henrique Espírito Santo – Gian-Luca Ventura (velho)
Carloto Cotta – Gian-Luca Ventura (novo)
Ivo Müller – Marido da Aurora
Teresa Madruga – Pilar
Isabel Cardoso – Santa
Telmo Churro – Intrépido explorador
Ficha técnica:
Realização – Miguel Gomes
Argumento – Miguel Gomes e Mariana Ricardo
Director de fotografia – Rui Poças
Som – Vasco Pimentel
Primeiro assistente de realização – Bruno Lourenço
Anotação – Telmo Churro
Consultora artística – P&B Silke Fischer
Decoração – Bruno Duarte
Guarda-roupa – Silvia Grabowski
Maquilhagem e cabelos – Araceli Fuente e Donna Meirelles
Montagem – Telmo Churro, Miguel Gomes
Montagem de som – Miguel Martins e António Lopes
Mistura de som – Miguel Martins
Director de produção – Joaquim Carvalho
Produtor associado – Alexander Bohr, ZDF/Arte
Produtor executivo – Luís Urbano
Co-produtores Janine – Jackowski, Jonas Dornbach, Maren Ade, Fabiano Gullane, Caio Gullane, Thomas Ordonneau
Produtores – Luís Urbano e Sandro Aguilar
Formato – 35 mm (parte 1) e 16 mm (parte 2), p/b, 1:1.37, Dolby SRD (uniformizado em 35 mm)
Duração – 118 min
Coprodução – Portugal, Alemanha, Brasil, França
Género: Drama
Classificação: M/12
Distribuidora: O Som e a Fúria
Festivais:
Festival de Berlim, fevereiro de 2012 (prémios )12 13 14
50º Festival de Cinema de Nova Iorque, setembro e outubro de 2012 15
Festival de Toronto (TIFF), 2012 16
Festival de Sidney, junho de 2012 17
Festival de Las Palmas (prémio Harimaguada de Prata), março 2012 18 19
Festival International du Film de La Rochelle 2012 20
14ª edição do Festival do Rio21 22 em outubro de 2012
«Uma história passada (…) pouco antes do início da Guerra Colonial Portuguesa», «…um filme sobre a passagem do tempo, acerca de coisas que desaparecem e só podem existir como memória, fantasmagoria, imaginário (…)»
PRÓLOGO :
Um narrador, Miguel Gomes, em voz over, lê um texto poético e algo filosófico que invoca uma lenda em que o Criador ordena mas em que o coração comanda: o suicídio de um intrépido explorador que, em terras de África, noutros tempos, se suicida lançando-se para as águas turvas de um rio onde será devorado por um crocodilo. O motivo que o leva a um acto tão desesperado é uma desilusão amorosa. Jura-se a bom jurar, dando veracidade à coisa, que uma linda dama por vezes se avista no meio da selva acompanhada de um triste crocodilo, sendo garantido existir entre ambas as criaturas uma misteriosa empatia.
PARTE 1 - Paraíso Perdido :
Três mulheres, que se dão como podem, moram num antigo prédio de Lisboa. Aurora, uma octogenária vivendo da reforma, velhota faladora, supersticiosa e excêntrica, mais morta que viva, e a Santa, a sua soturna criada cabo-verdiana, meio analfabeta mas ilustrada nas artes divinatórias do vodu, prática bem africana, vivem juntas na mesma casa. A Pilar, vizinha e amiga, católica e militante em grupos de solidariedade social, ocupa ainda seus lazeres enredando-se no psicodrama das outras duas.
A Pilar tem um apaixonado, um pintor romântico frustrado, que lhe oferece quadros foleiros. Preocupa-a, mais que ele, a boa amiga Aurora: a sua solidão, as suas frequentes escapadelas até ao casino. Preocupa-a tanto ou mais ainda a criada mulata de quem desconfia, pelo que ela cala e pelo que ela faz: artes do diabo. Por seu lado, entende a pobre Santa que se governe quem se tem de governar, e pronto, o melhor é ficar calada.
Mas algo mais atormenta a velha senhora. Sente-se às portas da morte e alguém lhe falta, alguém de quem as outras nunca tinham ouvido falar. Por isso lhes pede que o procurem: Gian-Luca Ventura. Aparece o homem, velho colono moçambicano que anda mal da cabeça. E outra história se revela, que assim desponta: "Aurora tinha uma fazenda em África no sopé do monte Tabu..."
PARTE 2 – Paraíso :
Flash-back: a história da vida de Aurora contada por esse homem em voz over, textual, monocórdica e arrastada. É ele Gian-Luca Ventura, «um explorador, uma espécie de Livingstone[desambiguação necessária], neste caso um português do século XIX» (Carloto Cotta / Henrique Espírito Santo), que de santo nada tem.
África portuguesa. Aurora vive perto da montanha Tabu com o marido. Exímia caçadora, não falha um tiro. Tem um pequeno crocodilo por ele oferecido que faz parte da família e se passeia pela opulenta casa como um banal animal doméstico.
O bicho foge. Ela acaba por o descobrir em casa do tal Gian-Luca e assim travam conhecimento. Assim se envolvem numa relação intensa e apaixonada. Será ele pai de um filho que ela pare. Será por isso que marido e amante se confrontam. Será talvez por isso que a bela e jovem Aurora, a de há cinquenta anos, perde a pontaria. Mas não quando pega num revólver e friamente comete um crime, implicando o amante.
Como pano de fundo deste melodrama, que se desenrola como um malfadado conto de fadas, assoma pouco a pouco e subtilmente todo o esplendor de uma África colorida que se revela sem cor porque as almas cinzentas dos que a colonizam fazem com que as cores intensas que ela tem se desvaneçam por entre as névoas que os rodeiam e o fumo que emana das suas paixões. Retrato de uma época passada, a preto e branco.
EPÍLOGO:
Explica Miguel Gomes como tudo se passou: «Trabalhamos com os actores de uma forma diferente da primeira para a segunda parte. Na primeira, ensaiamos como é normal alguns meses a partir do guião. Na segunda, fizemos uma coisa que adoro fazer: atirei fora o guião e os actores não sabiam o que iam fazer». 11 . Moral da história: como tudo na vida, corremos o risco de vermos frustrados nossos desígnios seguindo um plano rigoroso. Conseguimos muitas vezes lá chegar improvisando. Como no cinema, a vida é um jogo.
Ficha artística:
Laura Soveral – Aurora (velha)
Ana Moreira – Aurora (nova)
Henrique Espírito Santo – Gian-Luca Ventura (velho)
Carloto Cotta – Gian-Luca Ventura (novo)
Ivo Müller – Marido da Aurora
Teresa Madruga – Pilar
Isabel Cardoso – Santa
Telmo Churro – Intrépido explorador
Ficha técnica:
Realização – Miguel Gomes
Argumento – Miguel Gomes e Mariana Ricardo
Director de fotografia – Rui Poças
Som – Vasco Pimentel
Primeiro assistente de realização – Bruno Lourenço
Anotação – Telmo Churro
Consultora artística – P&B Silke Fischer
Decoração – Bruno Duarte
Guarda-roupa – Silvia Grabowski
Maquilhagem e cabelos – Araceli Fuente e Donna Meirelles
Montagem – Telmo Churro, Miguel Gomes
Montagem de som – Miguel Martins e António Lopes
Mistura de som – Miguel Martins
Director de produção – Joaquim Carvalho
Produtor associado – Alexander Bohr, ZDF/Arte
Produtor executivo – Luís Urbano
Co-produtores Janine – Jackowski, Jonas Dornbach, Maren Ade, Fabiano Gullane, Caio Gullane, Thomas Ordonneau
Produtores – Luís Urbano e Sandro Aguilar
Formato – 35 mm (parte 1) e 16 mm (parte 2), p/b, 1:1.37, Dolby SRD (uniformizado em 35 mm)
Duração – 118 min
Coprodução – Portugal, Alemanha, Brasil, França
Género: Drama
Classificação: M/12
Distribuidora: O Som e a Fúria
Festivais:
Festival de Berlim, fevereiro de 2012 (prémios )12 13 14
50º Festival de Cinema de Nova Iorque, setembro e outubro de 2012 15
Festival de Toronto (TIFF), 2012 16
Festival de Sidney, junho de 2012 17
Festival de Las Palmas (prémio Harimaguada de Prata), março 2012 18 19
Festival International du Film de La Rochelle 2012 20
14ª edição do Festival do Rio21 22 em outubro de 2012
Tabu (1931) F. W. Murnau
Tabu (1931) F. W. Murnau
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