quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Blood money - Aborto Legalizado



Uma investigação sobre a indústria do aborto nos Estados Unidos, do ponto de vista dos ativistas contrários à prática, conhecidos como pró-vida. O documentário pretende mostrar que o aborto legalizado é sinônimo de assassinato de bebês, que as mulheres sofrem traumas irreparáveis com essa prática, e que a intenção por trás do aborto é apenas a ganância e a vontade de diminuir a quantidade de negros nos Estados Unidos, já que as mulheres negras representam a maioria dos abortos no país.
 
Trailer:
 
 

domingo, 19 de janeiro de 2014

A Ninfomaníaca Volume 1 - "o pornô cult"


O provocador Lars Von trier está de volta aos cinemas com um tema e tanto: o relato das experiências de uma ninfomaníaca. Porém, para a crítica do Correio Braziliense Yale Gontijo, o filme “pornô cult” deveria se desenvolver em batidas de um “funk proibidão”. Já para o crítico Ricardo Daeh há indícios de perversão, mas que não transmitem “descarga de choque” ao telespectador. 
 
Sodoma e Modorra

 

Yale Gontijo
No primeiro volume de Ninfomaníaca, contemplamos a vinda do cineasta ateu Lars von Trier na figura de um Deus tirano e castigador. A pecadora sob o julgo de sua vontade é uma Madalena arrependida, vestindo calças jeans e camiseta, chamada Joe (Charlotte Gainsbourg). Encontrada ferida e desacordada nos primeiros minutos de filme depois do que pode ter sido um apedrejamento. A mulher desconhecida é socorrida por um homem bom e casto — judeu assim como Jesus Cristo — de sobrenome Seligman (Stellan Skarsgård). Ambos, empenharão uma longa conversa modorrenta sobre sexo e pecado.

 
 
De alguma forma Joe se sente suja por ter descoberto “a vagina aos dois anos” e ter feito uso de seu órgão sexual em atividades recreativas sob o juramento paródico “minha vulva, minha máxima vulva”. Abatida, a ninfomaníaca encontra ordem em meio ao caos de sua trajetória passada (quando a personagem passa a ser de responsabilidade da modelo Stacy Martin)por meio de analogias traçadas entre a caça sexual e a pescaria esportiva (informações excitantes como só a atividade de pescaria solitária sabe ser) em insistentes interrupções feitas por Seligman. Existe uma sequência vibrante em oposição ao esquematismo pretensamente erudito de estudos de uma composição polifônica de Bach ou os números de Fibonacci: a atuação orgânica de Uma Thurman no capítulo dedicado à Senhora H apresentando “a cama da vadiagem” para filhos pequenos. É quando Deus/Trier nos faz recordar do realizador de Ondas do destino (1996) ou do angustiante Dançando no escuro (2000).
 
 
O digressionismo anunciado com alarde é autoexplicativo, contendo imagens de cobertura demais. Algumas literais. Outras metáforicas. Nenhuma delas realmente com necessidade narrativa. Até a voz hardcore dos vocais da banda Rammsteins em Führe mich servem como suporte explicativo para a palestra de Joe. O “pornô cult” sugerido pela campanha de marketing que nos intrigou durante meses se apresenta como notas de um bloco post-it colegial — meio sacaninha — quando deveria se desenvolver em batidas de um funk proibidão. Trier transforma o sexo como um elemento gráfico de uma composição formal rigorosa (rigor nunca observado em sua filmografia).
 
 
Se a sua ninfomaníaca por vezes não obtêm prazer em longas incursões sexuais, o espectador também não deverá senti-lo. Voluntariamente, o cineasta parece ter se transformado em uma sombra do artista de outrora. Há os que pressintam um intricado plano de cinema superior na repartição de dois volumes de Ninfomaníaca. Mas há os sentem apenas a modorra* do novo arranjo de cinema feito pelo ex- príncipe louco da Dinamarca.
 
Modorra
mo.dor.rasf (cast modorra) 1 Grande vontade mórbida de dormir. 2 Doença que ataca o gado lanígero, ocasionada pela excessiva abundância de sangue. 3 Prostração mórbida. 4 Sonolência. 5 Apatia, indolência, insensibilidade. 6 O mesmo que mal de modorra. Mal de modorra: doença que se supõe seja hoje a encefalite letárgica. Var: madorna e modorna. Extraído do dicionário Michaelis virtual.

 
 
 
* Sodoma e Gomorra eram as cidades destruídas pela ira de Deus como punição ao mau comportamento de seus habitantes como ensina a Bíblia
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Declínio a caminho do óbvio
Ricardo Daehn
 
O estardalhaço em cima de Ninfomaníaca — antes de mais nada, é bom ressaltar —, não condiz com as imagens que atravessarão a tela. Há indícios de perversão, que se avolumam, mas não transmitem a descarga de choque, até porque o tema central de Lars von Trier declina do caminho óbvio. Seja nos descaramento dos discursos que antecedem a verdadeira gincana sexual proposta pela protagonista Joe (Stacy Martin e Charlotte Gainsbourg, alternadas) ou na jocosa aderência do mea-culpa (substituído por um "mea maxima vulva") é de se notar a presença de um cineasta autor, sempre mordaz e provocativo.

 
No discurso do filme, von Trier (em voto de silêncio junto à imprensa) é debochado a ponto de atacar, por meio de personagens, a fusão entre antissemitismo e antissionismo (que, insondáveis, acredita ter cegado seus detratores).
Uma das ressalvas ao filme está na trilha sonora (pouco original), já que o dinamarquês não é nem Dennis Hopper (com a Born to be wild de Easy rider) e menos ainda Kubrick (com a inevitável associação com De olhos bem fechados, no persistente uso de clássica música de Dmitri Shostakovitch). No miolo de Ninfomaníaca, na verdade, caberia (ao menos) a letra de Educação sentimental: "Ninguém vai resistir se eu usar os meus poderes para o mal". É assim que Joe vive: outrora "usou e magoou pessoas"; era só "olhar nos olhos e sorrir".
 
Na primorosa abertura de Ninfomaníaca — Volume I, um climão é montado com o som da água corrente, dado que remete, de pronto, ao sexo. A água ainda permeia o paralelo com a pescaria idolatrada por Seligman (interpretado por Stellan Skarsgard), solteirão cujo nome remete à felicidade, e que recolhe uma ferida Joe do meio da rua. Mas, imune à generosidade, ela perdeu o sentido da palavra "sensação". Numa perversão maior, a mulher beirando os 50 anos, quer ser repreendida e se gaba de ser "um ser humano ruim".
Diante do exercício do "poder como mulher", Joe (atenta a traços "pouco viris") parece colocar a masculinidade de Seligman em jogo. E ele posa de analista, numa postura que convida Joe ao monólogo de confessionário. Seguindo a cartilha de Heinrich von Kleist (de A marquesa d’O), muitos personagens dos relatos da ninfomaníaca chegam apócrifos. O vício dela traz lá seus efeitos colaterais, entre eles o da "ausência de empatia", como detecta Seligman.
Com estrutura muito falada, à la As aventuras de Pi, as nem sempre elaboradas imagens de von Trier podem até decepcionar. Nisso, não há dúvidas, seu "tio" no cinema, Peter Greenaway, não deixa brecha para paralelo, ao dosar lugubridade e lubricidade. O inglês, aliás, parece contaminar o senso de extrema (e aritmética) racionalidade que corrói o caráter de Joe. Ela contabiliza estocadas, pretende ser "manipulada" como as "coisas" (e não "garotas", como diz a legenda equivocada) do presumível amor (interpretado por Shia LaBeouf).
Em meio a relações maquinadas — em que um mantra ("Nunca tive um orgasmo antes. Você é meu primeiro") é repetido como artifício de conquistas —, o golpe de mestre de von Trier é descarrilar o tratado de pornografia oca e cercar a dura descoberta de Joe, sob pressão de recordações e fetiches, no desvelar de que "o ingrediente secreto do sexo seja o amor".
Entre tantas cavalgadas, a protagonista — que, num desvio, usava o sexo como mero alívio de tensões e amortecedor de sentimentos — perde o enervante controle e, como ceifadora de lares (a cena com Uma Thurman, neste sentido, é bombástica), sente o peso da monotonia. Meticuloso (e, por momentos, sutil), o cineasta sabe consagrar o reflexo de tantos rituais sem sentido. O "Não sinto nada" ouvido ao final do filme é uma senha perturbadora e indecifrável para o desfecho de Ninfomaníaca — Volume II, a ser visto em março. 
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